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Os novos reis do xadrez

O melhor mestre enxadrista já não tem chance alguma diante de um computador. A disputa é entre os programadores

Thomas Traumann


A VIRADA
O mestre russo Garry Kasparov, na derrota para o supercomputador Deep Blue em 1997. O jogo marcou o dia em que as máquinas superaram o melhor cérebro humano. De lá para cá, o software continua evoluindo
Essa tensão, agora, costuma se reproduzir entre os programadores. Numa reportagem recente, a revista New Yorker afirma que há tamanha tensão no ar durante as partidas entre computadores que alguns autores dos programas costumam nem falar. Numa partida contra um dos principais rivais do Hydra, o programa Shredder, os programadores dos dois computadores se reuniram para observar, como dois adversários que analisam o andamento do jogo. A partida ficou tão complexa que nenhum humano, incluindo vários mestres, sabia dizer quem tinha a vantagem. "Que esporte estúpido. Não sei o que fazer. Sinto-me como o passageiro carona de um carro de Fórmula 1", disse Donninger, o criador do Hydra. Acabou vencendo.

 Apesar da superioridade dos processadores sobre os cérebros, não houve ainda uma disputa oficial pelo título mundial. Basicamente, por falta de patrocinador. Há especulações de que os xeques dos Emirados Árabes pretendem oferecer uma fortuna para que Kasparov retorne aos tabuleiros e enfrente o Hydra. Até que isso ocorra, o próximo capítulo da disputa será em novembro, quando um pupilo de Kasparov, o russo Vladimir Kramnik, jogará contra o programa Fritz, em Bonn, Alemanha. Se ganhar, levará US 1 milhão para casa. As apostas pró-computador são de três para um. "Uma Ferrari corre mais rápido que o Carl Lewis e um computador pode surrar qualquer um no xadrez. Entendido, vamos voltar a nossa vida normal", afirmou Howard Goldowsky, na revista americana Chess Cafe .

Com o barateamento do processamento dos computadores, começa a haver uma democratização no acesso aos bons programas. Um ótimo software, como o Zappa, pode ser baixado de graça.

Um xeque dos Emirados Árabes está por traz do mais poderoso programa que joga xadrez o Hydra

Outros, que chegam a disputar títulos mundiais como o Junior e o Fritz, podem ser comprados por US 100. O dono do Hydra, o xeque Tahnoon Bin Zayed al-Nahyan, se diverte colocando sua máquina para massacrar adversários pela internet sob o pseudônimo de zor-champ. "O Hydra não é apenas uma experiência científica de xadrez", diz o paquistanês Ali Nasir Mohammed, um dos chefes do projeto. "A partir desse projeto, queremos desenvolver um supercomputador barato para atividades que precisam de muitos cálculos com enorme velocidade. Sistemas como o Hydra podem ser usados para a identificação de digitais e testes de DNA."

Crianças aprendem xadrez em escola
na China. O jogo exige memória
e poder de cálculo

Seria isso uma forma de inteligência? 'O cérebro é como uma máquina", afirma o americano Mark Greenberg, professor de Filosofia da Universidade de Los Angeles, EUA. Em princípio, não há nenhuma razão para que um computador não pense, tenha crenças e seja inteligente. O filósofo americano John Searle, porém, afirma o contrário. Nos anos 80, ele causou furor ao rebater a idéia de um computador inteligente com uma teoria chamada "quarto chinês."

Em uma situação hipotética, Searle pede que se imagine alguém que não saiba chinês, isolado num quarto, com um livro de regras sobre a escrita chinesa. Essa pessoa recebe papéis com os ideogramas debaixo da porta. Com seu manual, consegue traduzir os caracteres mesmo sem saber o que está decifrando. Segundo o professor, é assim que funciona um programa de computador. Ele manipula os símbolos necessários para uma tarefa, mas não "entende" o significado dela. Mesmo pesquisadores de inteligência artificial concordam com Searle quando o tema é xadrez. Como se trata de um jogo de possibilidades finitas, uma máquina de calcular superpotente teria, em tese, maior chance de vencer que o cérebro. Mas em jogos como o chinês Go, que exige mais intuição e menos cálculo, nenhum computador foi ainda capaz de bater o ser humano.


Fonte: REVISTA ÉPOCA

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