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IBM cria software para enfrentar humanos em programa de TV

John Markoff

O programa de perguntas e respostas na televisão Jeopardy! encontrou muito sucesso, e agora se tornou o mais novo desafio do setor de inteligência artificial. A IBM anuncia que está nos estágios finais de trabalho para o desenvolvimento de um software para enfrentar os concorrentes humanos no Jeopardy!. Caso o programa seja capaz de vencer os seres humanos, o ramo da inteligência artificial terá conquistado um grande salto à frente.

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Os cientistas da IBM no passado desenvolveram um programa de xadrez, executado por um supercomputador conhecido como "Deep Blue". O programa conseguiu superar o então campeão mundial de xadrez Garry Kasparov em um controvertido torneio, em 1997. (Kasparov considerou que o resultado havia sido desleal e, em uma disputa posterior contra nova versão do programa, garantiu um empate.)

Mas o xadrez é um jogo de limites, com peças cujos poderes estão claramente delimitados. Já Jeopardy! requer um programa com a agilidade necessária para ponderar uma gama quase infinita de relações e para realizar sutis comparações e interpretações. O software precisa interagir com seres humanos nos termos destes, e fazê-lo rapidamente.

De fato, os criadores do sistema ¿ ao qual a empresa deu o nome "Watson", em referência a Thomas Watson, o fundador da IBM - afirmaram que ainda não confiavam plenamente em que seu sistema conseguisse concorrer com sucesso no programa de televisão, cujos campeões costumam acertar as respostas em média 85% das vezes.

"O grande objetivo é levar os computadores a ganharem a capacidade de conversar em termos humanos", disse o líder da equipe, David Ferrucci, um pesquisador de inteligência artificial da IBM. "E ainda não chegamos lá".

A equipe não está planejando desenvolver uma máquina dotada de capacidade verdadeira de pensar, mas sim uma nova classe de software capaz de "compreender" questões humanas e de responder a elas corretamente. Um programa como esse poderia ter imensas implicações econômicas.

A despeito de mais de quatro décadas de experiências com inteligência artificial, os cientistas realizaram progressos apenas modestos, até agora, na construção de máquinas capazes de compreender linguagens e interagir com seres humanos.

A disputa proposta representa um esforço, da parte da IBM, para provar que seus pesquisadores são capazes de realizar significativos avanços técnicos ao enfrentar "grandes desafios", como a incursão anterior da empresa no mundo do xadrez. O novo projeto se baseia em três anos de trabalho por uma equipe de pesquisa que cresceu até que abarque 20 especialistas em campos como o processamento natural de linguagem, aprendizagem mecânica e recuperação de informações.

Sob as regras da disputa, que a companhia negociou com os produtores de Jeopardy!, o computador não terá de emular todas as qualidades de um candidato humano. As questões lhe serão encaminhadas em forma de texto eletrônico. Os participantes humanos tanto lêem a questão como texto quanto a ouvem, proposta por Alex Trebek, o apresentador do programa. O computador se pronunciará meio de um sintetizador de voz, para responder às perguntas e escolher a categoria seguinte.

Os pesquisadores da IBM disseram que seu plano era levar um computador Blue Gene a Los Angeles, para que pudesse participar do concurso. Para que ele enfrente um desafio com recursos mais parecidos com os dos participantes humanos, o computador não estará conectado à internet, mas apresentará respostas com base em textos que "leu", ou seja, processou e indexou, antes do programa.

Há certo ceticismo quanto a esse esforço, entre os pesquisadores que trabalham nesse campo. "Para mim, isso parece mais uma demonstração do que um grande desafio", disse Peter Norvig, cientista da computação que é diretor de pesquisa no Google. "Isso permitirá explorar diferentes capacidades, mas não mudará a maneira pela qual esse campo de trabalho funciona".

Os pesquisadores da IBM e produtores de Jeopardy! disseram que estavam considerando que forma o ciberconcorrente deveria ter e qual seria seu sexo. Uma possibilidade seria utilizar um avatar animado exibido em uma tela de computador.

"A discussão sobre o assunto acaba de começar", disse Harry Friedman, produtor executivo de Jeopardy!. "Todos nós concordamos em que a imagem não deveria ser a Robby, o Robô".

Friedman acrescentou que também estavam pensando sobre quem deveriam ser os participantes humanos, e consideram a possibilidade de convidar Ken Jennings, o lendário campeão que venceu o programa 74 vezes consecutivas, faturando US$ 2,52 milhões em prêmios, em 2004.

A IBM não revela que tamanho exatamente teria o banco de dados interno do sistema. O volume efetivo de informação poderia ser uma fração significativa da World Wide Web, tal qual atualmente indexada pelo Google, mas pesquisadores de inteligência artificial afirmam que o acesso a mais informações não seria a chave mais importante para a melhora do desempenho do sistema.

Eric Nyberg, cientista da computação na Universidade Carnegie Mellon, está colaborando com a IBM na pesquisa, para desenvolver sistemas de computação capazes de resolver questões não limitadas a tópicos específicos. A verdadeira dificuldade, disse Nyberg, não é conduzir buscas em um banco de dados, mas fazer com que o computador compreenda aquilo que deveria estar procurando.

O sistema deve ser capaz de lidar com analogias, trocadilhos, afirmações de duplo sentido e relações como vínculos de tamanho e local, tudo isso em velocidade relâmpago. Em uma exibição realizada no laboratório da IBM em Yorktown Heights, recentemente, contra dois pesquisadores da empresa, o software Watson parecia competente e agressivo, mas não deixou de cometer alguns erros intrigantes.

Por exemplo, diante da afirmação "vizinho a Síria e Israel, este pequeno país tem apenas 216 quilômetros de comprimento e 56 quilômetros de largura", Watson superou os concorrentes ao responder, rapidamente, "O que é Líbano?" Momentos mais tarde, porém, o programa tropeçou quando respondeu com igual rapidez que "lençol" era uma fruta.

A maneira de resolver esses problemas, disse Ferrucci, não é criar um banco de dados com nomes de frutas, mas melhorar a capacidade do programa de compreender como são fornecidas as pistas em Jeopardy!. A complexidade do desafio é sublinhada pela sutileza envolvida em captar o significado exato de uma sentença humana falada.

Por exemplo, uma frase como "eu nunca disse que ela roubou meu dinheiro" pode ter sete significados diferentes, a depender de que palavra for enfatizada. "Nós amamos esse tipo de sentença", disse Nyberg. "É sobre elas que falamos quando saímos juntos para uma cerveja depois do trabalho".

Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times

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