Canal Xadrez



O ensino de xadrez como ferramenta pedagógica

Por que no Xadrez existem as cores brancas versus negras?
Será uma conotação de racismo?

Prof. Sylvio Rezende*

Já me fizeram essa pergunta algumas vezes. Uma das últimas foi de minha neta quando tinha acabado de escrever este artigo, exatamente para responder mais este tabu sem qualquer fundamento, inventado contra o Xadrez.

Na época que o Xadrez entrou na Europa, levado pelos Árabes invasores durante as Cruzadas, como a nobreza e o Clero não eram capazes de impedir que o Xadrez fosse praticado pelo povo, resolveram “batizar” o Jogo de Xadrez obedecendo a uma concepção européia e cristã, predominantes não só na Europa como fortemente na Espanha.

As peças foram alteradas para atender às exigências da cultura européia e como identificação do Xadrez como um jogo dos nobres, já que tinha a participação da realeza nas figuras do Rei e da Rainha (A designação como Dama foi uma contingência da necessidade de diferenciar as peças para efeito de anotação das partidas. Assim, adotou-se para a Rainha a identificação pela letra D de Dama, que era uma designação social correspondente ao status da Rainha, ficando a inicial R como identificação exclusiva do Rei nas anotações.

O tabuleiro árabe não era colorido, era incolor, dividido apenas pelas linhas demarcadoras das Colunas (verticais) e das Filas (horizontais). Passando para a Europa, os seus modificadores adotaram as cores preto e branco para melhor visualizar as casas do tabuleiro, surgindo assim o tabuleiro colorido alternadamente com casas claras e escuras.

Agora, por que Branco e Preto?

Essas cores tradicionalmente eram símbolo da aristocracia. Nas famosas Justas da Idade Média, já era comum essas cores nas competições entre os fidalgos.

Em nossa época mesmo existem clubes chamados de aristocratas por terem seus uniformes coloridos com listas pretas e brancas, como, por exemplo, o Botafogo, no Rio de Janeiro.

Também já tivemos nos tempos carnavalescos das Grandes Sociedades, clubes simbolizando a aristocracia com essas cores me suas bandeiras e uniformes.

Outro fato incontestável: A entrada do Xadrez na Europa e o seu “batizado” aconteceram entre os séculos XIV e XV. Praticamente não existia negros na comunidade européia e muito menos na condição de escravos, o que só veio acontecer no século XVI, quando os colonizadores do “Novo Mundo”, não conseguindo forçar os índios ao serviço escravo, lançaram mão dos negros recém descobertos em grande quantidade após as viagens de circunavegação da África.

O xadrez com suas cores aristocráticas preto e branco já existia sem qualquer conotação racial. Tanto assim que podemos ver em esportes caracteristicamente aristocratas, essas cores representadas, como no Automobilismo onde a chegada é marcada pela bandeira quadriculada em branco e preto.

No hipismo, essas cores igualmente são representadas nos uniformes dos Cavaleiros. O mesmo acontece nas festas a rigor (cada vez mais raras) onde o vestuário dos homens invariavelmente obedece às cores aristocráticas de preto e branco.

Onde existe racismo nestes exemplos?

Infelizmente, como uma vergonha para a raça humana, a história deixou suas marcas na escravidão; mas não é porque alguns mal formados (mal formados mesmo, de formação ruim),  insistem em ver diferenças na cor da pele das pessoas que vamos transferir essas aberrações morais para o campo do Xadrez, cujas cores nada têm a ver com isso, por serem, exatamente, muito anteriores a todas estas conotações.

Quanto a esta questão de cor da pele, como é que alguém em sã consciência poderia querer que ficasse a pele de um povo submetido por milhares de anos à inclemência do Sol, por gerações e gerações contínuas? Da mesma forma, como poderia ser diferente a cor da pele de um povo igualmente submetido a gerações e gerações da proximidade do gelo e das neves? Naturalmente, por adaptação ao frio com camadas maiores de gordura sob a pele e pela harmonia ambiental, teria que ser branca. Da mesma forma o cabelo dos submetidos ao calor incessante dos trópicos teria que adaptar-se ao longo das gerações, concentrando-se no alto da cabeça para maior proteção do cérebro ao calor inclemente. Por outro lado, seus irmãos do Norte teriam que ter os cabelos alongando-se ao logo do corpo para maior proteção ao frio. Depois vieram as roupas de peles de animais, mas levou tempo até o homem adotá-las.

Mas esse Xadrez é outro e pertence ao Criador de tudo e de todos. Fiquemos com o nosso Xadrez de peças claras e escuras (brancas e pretas).

A propósito: antes que alguém invente uma nova fórmula racista, é bom saber que foi exatamente pelas competições constantes usando tabuleiros coloridos de branco e preto que os jogadores de Xadrez de alto nível perceberam o transtorno causado aos seus olhos pelo forte contraste entre as cores do tabuleiro e assim passaram, pouco a pouco, a mudarem as cores para abrandar mais o contraste visual, atenuando assim a cor preta para marrom, castanho e matizes mais claros. O branco, por sua vez, para cinza, creme e outros matizes.

Fischer, em seu match contra Spassky pelo título mundial de 1972, exigiu tabuleiros e peças com as cores verdes, com verde claro para o branco e verde jade (ou próximo) para o preto.

Pequena variação na tonalidade de uma para outra, mas de alto valor relaxante para os olhos. Não esquecer que na época o tempo de uma partida inteira durava em média de quatro a cinco horas. Hoje em dia são muito comuns tabuleiros nas cores verde e branco gelo, com peças creme e marrom, mas puramente para atender aos olhos e nada a ver com qualquer conotação racial.


* Sylvio Rezende

Prof. de Ed. Física – CONFEF – 1080-G/RJ
PG em Psicopedagogia
PG em Gov. e Adm. Municipal.



Fonte: conexaoprofessor

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