Canal Xadrez



O ensino de xadrez como ferramenta pedagógica

A Rainha. Por que uma Rainha em um jogo de combate?

Prof. Sylvio Rezende*

Vejamos: O Xadrez foi introduzido na Europa pelos Árabes invasores da Espanha na época das cruzadas, quando a nobreza européia apoiada pela igreja guerreava contra os mouros.

Temendo que o povo apreciasse o jogo dos Árabes em seus momentos de lazer e, por extensão, passassem a simpatizar com os invasores, tornando-se muito mais difícil expulsá-los do território espanhol, tanto a realeza quanto a Igreja proibiram a prática do jogo “do inimigo”. Porém, não é uma tarefa fácil proibir o povo de praticar uma atividade de que goste. Até porque a proibição oficial geralmente acarreta no aumento do interesse pelo “fruto proibido”.

Constatando que a proibição não surtia efeito, os governantes resolveram mudar de estratégia e resolveram então transformar o jogo árabe em um jogo cristão e assim procederam ao que chamo, por analogia, de “batismo do Xadrez”.

As peças do jogo foram alteradas na forma e nome, surgindo assim as Torres, os Bispos, o Rei e a Rainha. Como a Cavalaria tinha papel de destaque entre os nobres, permaneceu sem alteração, assim como os Peões (soldados a pé - Infantaria).

Não importa aqui entrar na controvérsia de que qual peça foi substituída para dar lugar às novas, mas sim o porquê das novas peças.

Para que o jogo mantivesse sua característica básica, o cheque árabe foi transformado em seu correspondente europeu. O Rei. As Torres, marco das fortalezas de um castelo medieval, tiveram seu lugar em sintonia com a figura real.

Na época, a Igreja sempre tinha sua representação junto aos Reis e naturalmente, para aprovar o jogo como um jogo cristão, surgiu o Bispo ao lado do Rei.

E aí surge a pergunta: e a Rainha? O jogo árabe não tinha mulher. Por sua vez, como jogo de combate, também não havia lugar para o sexo feminino. Por que então a Rainha? Muito simples: na realidade, esta explicação foi uma de minhas deduções lógicas não só como apaixonado pela História de um modo geral, mas também como aluno na época, de um Curso Superior de História.

Ora, a Espanha na época era governada por Isabel “a Católica” e por seu marido D. Fernando. O casamento dos dois atendia ao cunho político para unificar a Espanha em uma só coroa.

Isabel, não só por ser rainha da maior parte do território, mas também por sua influência junto à Igreja (daí seu apelido), não iria admitir um jogo com representação real em que ela não estivesse igualmente representada e assim, forçosamente, surgiu a Rainha tal qual na vida real: mais poderosa que o Rei, embora fosse mantido nele a característica de maior importância no jogo.

A primeira vez que deduzi esta explicação foi exatamente na ocasião de meus estudos superiores de História (1966/1967), coincidente também com a época em que iniciei a introdução do Xadrez como atividade escolar (1965) e recebia esse questionamento de alguns de meus alunos. Em 1967, fui aprovado em dois concursos simultâneos para os antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara e, por força das nomeações, fiquei impedido de continuar o curso por falta de horário. Não sei quem levou a melhor eu ou a História. Uma coisa é certa, nunca fui contestado, muito pelo contrário. Hoje em dia essa justificativa já encontra eco entre os profissionais de ensino do Xadrez.

Quanto ao Cavalo e ao Peão, não houve praticamente modificação, pois o Cavalo tinha igualmente seu lugar de destaque e símbolo de status social na nobreza européia. Quanto ao Peão, representando a infantaria (soldado a pé), também não teve substituição.

Ficamos assim com as Peças: Rei, Rainha (ou Dama), Torre, Bispo, Cavalo e Peão.

Com essa medida da introdução da Rainha, o Xadrez passou a ser o primeiro esporte do mundo a admitir a presença da mulher (e até mais poderosa) numa atividade que na época era exclusiva dos homens.

Também o Xadrez é o único esporte que permite não só a participação da mulher como de crianças em confrontos diretos com os homens adultos, sem restrições nas regras em relação a diferenças sexuais, físicas ou de qualquer espécie.

Ou seja, o jogo de xadrez, sendo essencialmente um jogo de combate, é, paradoxalmente, o esporte mais democrático de todos.


* Sylvio Rezende
Prof. de Ed. Física – CONFEF – 1080-G/RJ
PG em Psicopedagogia
PG em Gov. e Adm. Municipal.



Fonte: conexaoprofessor

Página Anterior


Canal Xadrez