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O ensino de xadrez como ferramenta pedagógica


xadrez “Retrato do jogador de xadrez”, 1991.

PLATÃO travou o duelo: o verdadeiro mundo é o das ideias. Ali, no puro pensamento, impera a perfeição. A arte, esta cópia humana enganosa??? não nos vale um instante de atenção. Imitação sórdida... barata. Simulacro que é cópia da cópia. E nada mais.
 
ARISTÓTELES confessou (em carta a seu discípulo Alexandre Magno): "Vejo que viajas constantemente. Quando estiveres só, quando te sentires um estrangeiro no mundo, joga xadrez. Este jogo erguerá teu espírito e será teu conselheiro na guerra".
 
Mas o veredito final coube a NIETZSCHE: “Deus está morto”.
 
Conversa de bêbado? Desafetos de botequim??? O fato é que, com o derramamento de sangue divino, Nietzsche finalmente consagrou-nos como nossos próprios deuses... Desde então, super-homens da arte e do pensamento, temos plenos poderes para reinventar mundos ou para fazer da mentira uma forma de verdade. Agora... que mal lhes pergunte, que tal todos esses ingredientes numa partidinha de xadrez?
 
O Rei está morto
 
Xeque-mate (em persa, “shāh māt”) significa: o Rei está morto. A expressão, que designa no enxadrismo o lance que põe fim à partida, é usada quando, atacado, o Rei não pode permanecer na casa em que está, movimentar-se ou ser defendido por outra peça.

As estratégias e táticas são mesmo infinitas e apenas mentes brilhantes conseguem executá-las com rigor e precisão. Mas apesar da resistência exercida pela Torre da Defesa sobre o Peão inimigo, o assassinato do Rei envolve mais do que um plano de batalha arquitetado meticulosamente... A audácia da disputa é refém confessa: xadrez é paixão, emoção... Arte.

Pergunte a qualquer amante desta modalidade... “Seria o jogo uma forma de arte?” Se é por bem arte ter finalidade, lá vai... “Sim, o xadrez exercita a mente, provoca o espírito e preenche a alma”.

O aspecto lógico do xadrez não impede o “expert” de manifestar sua criatividade, pelo contrário. Sua individualidade é impressa na partida. O amante da modalidade experimenta a cada partida a indescritível sensação de arrebatamento estético ao realizar uma combinação, satisfação similar à sentida ante uma obra mestra da pintura, música ou poesia.

Seja na abertura (fase inicial), seja no meio-jogo (fase intermediária), somente a análise lógica não basta frente ao elevado número de possibilidades a serem examinadas. Por isso, o enxadrista, diante da incapacidade do cálculo exato, orienta-se por princípios gerais.

Automaticamente, o jogador reduz as opções drasticamente a poucas a serem consideradas, mas ainda assim precisa usar sua imaginação e intuição para encontrar o melhor lance.

“A impossibilidade de conhecer o melhor lance é que eleva o xadrez de um jogo científico para uma arte, um meio de expressão individual.” Se o próprio físico John R. Bowman reconhece, você tem ainda alguma suspeita?

A arte nos remete à superação, à transcendência, ao fazer como ninguém fez ou jamais ousou imaginar. Autoconhecimento talvez... O xadrez é tudo isso: a arte do ir além, do inesperado. A mente humana é uma obra-prima e tudo o que dela nasce é uma forma peculiar de arte. Um pensamento gera uma ideia, que gera um sentimento, que gera uma ação, que gera todas as outras possibilidades de criação... E o xadrez é fruto do pensamento.


Confira alguns dos Grandes Pensadores e Pensamentos do Xadrez:


 MARCEL DUCHAMParte

*Marcel Duchamp

xadrez
Duchamp joga xadrez com Man Ray,
em cena do clássico do cinema de
vanguarda francês dos anos 20,
Entr'acte”, de René Clair.

A ambição do artista francês que revolucionou o campo das vanguardas europeias nunca foi, de fato, a proposta estética. Como criador dos polêmicos “ready-mades” e um dos fundadores do movimento Dada, era um autêntico jogador de xadrez profissional. Como xadrezista, um verdadeiro artista.

“Por causa do meu contato muito próximo com artistas e jogadores de xadrez, cheguei à conclusão de que nem todos os artistas são jogadores de xadrez, mas todos os jogadores de xadrez são artistas.” (Marcel Duchamp, 1952)

Duchamp passou muito mais tempo de sua vida dedicado ao jogo do que a qualquer outra coisa - inclusive à arte. Principalmente entre o final da década de 20 e o início da década de 30, o artista alcançou excelentes resultados em torneios, chegando a jogar com os melhores do mundo. No Torneio Internacional de Paris, em 1930, derrotou o campeão belga, George Koltanowski, e empatou com Xavier Tartakower, campeão do Torneio, talvez os dois maiores resultados de toda a sua trajetória de jogador. Nos anos seguintes, Duchamp participou de competições internacionais representando a equipe francesa ao lado de Alexander Alekhine, jogador que tinha vencido, anos antes, o campeão mundial José Raúl Capablanca.

“A minha atenção está completamente absorta. Eu jogo dia e noite, e nada mais me interessa do que procurar o lance certo. Gosto da pintura cada vez menos e menos.” (Marcel Duchamp, 1952)



A METAMORFOSE DE NARCISO
arte

 *Salvador Dalí

xadrez
A Metamorfose de Narciso”, 1937

Em Dalí, tabuleiros de xadrez, bem como peças do jogo, são recorrentes em sua obra e compõem os simbolismos psíquicos surrealistas, suas conotações metafísicas e sexuais. Amparado nos conceitos psicanalíticos de Freud, este “monstro da inteligência” pictórica (como se autodenominava) costumava também recuperar elementos da mitologia grega, a exemplo de sua obra “A Metamorfose de Narciso”. No fundo da pintura, o xadrez é palco da nudez consentida de uma figura espelhada em Narciso.

O personagem mitológico era um belo rapaz indiferente ao amor, filho de Céfiso e de uma ninfa. Segundo um adivinho consultado por seus pais, Narciso teria longa vida se jamais visse a própria face. As moças sofriam de paixão por ele, que pouco se importava. A ninfa  Eco, perdidamente apaixonada, ao não ter seu amor correspondido, retirou-se para uma região desértica e definhou até a morte. A deusa Nêmesis, comovida pelo sofrimento das moças, decidiu vingá-las. Induziu Narciso a, depois de uma caçada num dia muito quente, debruçar-se numa fonte para beber água. O personagem, então, viu seu rosto refletido e se apaixonou por sua própria imagem. Permaneceu imóvel na contemplação e assim morreu. No local, surgiu uma bela flor, de inebriante perfume, que recebeu seu nome. Dessa forma, Narciso tornou-se um nome associado a tudo que é ou parece ser vaidoso.

METAMORFOSE II arte

*Maurits Cornelis Escher

Uma das principais contribuições da obra do artista gráfico holandês conhecido por suas xilogravuras, litografias e meios-tons, está em sua capacidade de gerar imagens com impressionantes efeitos de ilusões de ótica, notável qualidade técnica e estética, tudo isto em respeito às regras geométricas do desenho e da perspectiva. Na série de metamorfoses realizada por Escher, é muito comum identificar elementos geométricos que tomam formas animadas, recuperando, ao final, as linhas retas e a concretude de objetos como o xadrez.

xadrez
“Metamorfose II”, 1939.

"Uma longa sequência de metamorfoses, da palavra «metamorphose», vertical e horizontalmente escrita na superfície, com as letras O e M como pontos de interseção, origina um mosaico de quadrados brancos e pretos, que se transforma, num tapete de flores e folhas, onde duas abelhas foram pousar. A seguir transformam-se as flores e as folhas de novo em quadrados, mas em breve deles se desenvolvem formas de animais. Expressado em linguagem musical, temos aqui que ver com o com passo quaternário.

Agora o ritmo se transforma: uma terceira cor se junta ao branco e ao preto e daí resulta um compasso ternário. Cada figura simplifica-se e o padrão que primeiro consistia em quadrados, passa agora a hexágonos. Então surge uma associação de ideias: hexágonos fazem lembrar os alvéolos de um favo e assim aparece em cada alvéolo uma larva de abelha. As larvas crescidas transformam-se em abelhas que voam no espaço. Não lhes está determinada uma longa vida, pois cedo as suas silhuetas pretas juntam-se a um plano de fundo de peixes brancos. Logo que estes também se unem, mostra-se que os espaços intermédios têm a forma de aves pretas.

Tais transformações de objetos em planos de fundo aparecem ainda algumas vezes: aves escuras – barcos claros – peixes escuros – cavalos claros – aves escuras. Estas simplificam-se num padrão de triângulos de lados iguais que servem por pouco tempo de suporte para envelopes com asas, mas que depressa se transformam em formas de aves pretas. Do seu plano de fundo branco, aparecem avezitas cinzentas que ficam cada vez maiores, até tocarem os contornos das demais espécies. O que então ainda resta do plano de fundo branco, toma a forma de uma terceira espécie de ave de maneira que três espécies diferentes, cada uma com a sua forma e cor específica, preenchem inteiramente a superfície.

Agora é de novo a vez duma simplificação: cada ave torna-se num losango. Tal como na estampa «Circulação» oferece-se aqui a oportunidade de passar a uma imagem tridimensional, pois três losangos sugerem um cubo. Dos blocos origina-se uma cidade à beira mar.

A torre que está na água é ao mesmo tempo uma figura de xadrez cujo tabuleiro, com seus quadrados claros e escuros, conduz às letras da palavra «metamorphose».”  (Escher, 1994)


SÉTIMO SELO (“Det Sjunde Inseglet”, Suécia: 1956)
cinema

*Ingmar Bergman

xadrez
Protagonista duela com a Morte
em partida de xadrez no filme
“Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman.

Sinopse. Ao retornar das Cruzadas, Antonius Block encontra sua vila destruída pela peste negra. O cavaleiro começa a refletir sobre o sentido da vida, mas a Morte lhe aparece. Block, porém, se recusa a morrer e propõe um jogo de xadrez, cuja vitória garante a sua salvação e a de seus súditos. Apesar de vencida, a Morte continua a persegui-lo enquanto viaja pela Suécia Medieval.

JOGO DE XADREZ Música

 *Paulinho Nogueira

Nesse tabuleiro o rei não manda nada
Tem medo da dama e de casa quase não sai
Nesse tabuleiro o rei não manda nada
Até no pulo do cavalo ele cai.
 
Estou falando do jogo de xadrez
Joguei uma partida, demorei um mês!
Antes de cada lance a gente pensa pra valer, eu quero ver
Eu vou dar um xeque-mate em você.
 
É o peão que sai na frente
Canta o jogo e manda ver
Abre caminho pro bispo
Faz a torre se mexer
Mas é só no tabuleiro
Que é chegada a minha vez
Eu queria que tudo fosse
Como um jogo de xadrez!
 
Nesse tabuleiro...
 
Além de ser um divertimento mental
Tem mais uma jogada toda especial
Pra quem chegar em casa tarde outra vez...
É só dizer que estava jogando xadrez.
 
 
 

MARRAIO FERIDÔ SOU REI Música
 
*Antônio Andrade, Serafim Adriano e Edu Ferreira
(Mocidade Independente de Padre Miguel - Samba-Enredo 1993)
 
Vai começar
a Mocidade acende a chama da emoção
lembrando a Grécia onde o jogo se tronou
uma forma de competição
iluminada palos deuses
a Mocidade vem jogar no carnaval
a sorte da estrela que nos guia
no pano verde dessa minha fantasia
 
Já joguei muito com a vida
já rodei muito peão (peão)
A sorte pode vir parar na minha mão
 
Vem me seduzir
com seu jogo de olhar
 
é um jogo de prazer
sem medo de perder
o gosto de arriscar
 
A vida é como um jogo de xadrez
desde o começo da humanidade
aqui, se nasce jogando
perdendo ou ganhando
Em busca da felicidade
 
Rola bola, bola rola
na vida sempre joguei
Se carambolar eu ganho
feridô marraio sou rei

ENCOSTEI-MEliteratura


*Álvaro de Campos

 
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.

Robert Doisneau registrou a rotina de xadrezistas nas ruas de Paris e em seus arredores, fotografando a vida social de pessoas comuns. Cecília Meirelles contemplou sua poesia com a atividade, saldando a literatura nacional com esses personagens da vida real...




Fonte: conexaoprofessor

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