TemTudo
 

 

 

Home   Email Anuncie    
Canal Xadrez

Menu


Favoritos / Compartilhe







--

Curiosidades

A chacina da família Latron             Enviado por Romario


     -Alguém quer nos exterminar! queixou-se o velho  banqueiro.
     -Até que não seria tão mau...resmungou entre dentes o inspetor En
 Passant, que já tinha ouvido umas e outras do banqueiro Latron e depois
 perguntou sério:
     -Do que se trata afinal?
     -Em curto espaço de tempo,  continuou o velho  Latron, três  
 acionistas do nosso banco morreram em circunstâncias misteriosas. Henry foi  
 atropelado por um automóvel, Jacques foi encontrado asfixiado  no  fundo  de um  
 poço,
 Louis explodiu junto com seu avião particular...
     -Me lembro, suspirou En Passant, estivemos investigando o caso...
     -Mas não encontraram nada, não é mesmo? E agora só sobramos nós 4.
     -E quem são esses "nós"?
     -Você deve saber que nosso  banco é uma empresa familiar. Ainda no
 século passado, quando fundaram o banco, constituiram o sistema
 administrativo e a transmissão do poder da seguinte forma:

 um Presidente seguido  por 2 vices, que por sua vez são seguidos  por  2
 diretores e por fim mais 2 assessores - ao todo sete elementos - que
 distribuem tanto os lucros quanto as responsabilidades em proporções
 decrescentes, conforme o cargo,  informou o  velho Latron, prosseguindo:

     - O presidente do banco sou  eu. Meus vices: o finado Henry, e meu
 sobrinho Albert; meus diretores: os falecidos Jacques e Louis...
     -E quem está na base dessa escadinha de poder?
     -Meus dois sobrinhos, os irmãos Desirré e François, que agora  
 deveriam ser promovidos, mas devido às atuais circunstâncias rersolvemos não fazer
 alterações.
     -E como são esses jovens?
     -Nem parece que são irmãos, queixou-se o velho Latron: François não  
 se importa nem um  pouco com nosso circunspecto trabalho, é mulherengo,  
 bebe e ainda por cima, pinta. Em compensação Desirée é o primeiro a chegar ao  
 banco  o último a sair, se interessa por todo pedaço  de papel. Ele será  o  
 futuro grande chefe, o legítimo herdeiro dos Latrons.
     -Humm, disse o pensativo En Passant, e, virando-se para seu  assessor
 Piéce Touchée:
     -O que você sugere?
     -Que tal fazer uma investigação na casa dos três parentes?
     -Tive uma ótima idéia, disse En Passant, virando-se para Latron.
     -Vamos fazer uma investigação na casa dos seus 3 sobrinhos; será que
 daria para convocá-los para uma reunião  inesperada?
     Alguns dias depois Latron fez o  chamado para a reunião, da qual  
 nenhum familiar pode se esquivar. Nesse meio tempo, os homens de En Passant
 vasculharam o edifício onde moravam os três parentes, encontrando o
 seguinte: no apartamento de Albert,  1500 fotos de nus  artísticos,
 perfeitamente catalogadas: no apartamento  de François, diversos quadros  
 não vendidos e um monte de tintas, que segundo o perito, poderia ser usadas  
 como veneno; só no apartamento de Desirée é que não encontrarem nada. Já  
 queriam se afastar do prédio, quando no  salão de jogos um dos policiais gritou:
     -Um tabuleiro montado!
     Chamaram En Passant imediatamente, já que era notório o seu  
 envolvimento com o jogo.  Ele veio acompanhado do  "expert" de xadrez,  o filhinho do
 detetive Piéce de Touchée, que, olhando com enfado para o  tabuleiro,
 declarou com uma ponta de desprezo.
     -É um problema de xadrez. Mate em nove lances

     -E como se resolve o problema? -  perguntou o inspetor.
     -A solução é a seguinte: 1.Rb7 Qxb7 2.Bxg6+ Kxg6 3.Qg8+ Kxf5  
 4.Qg4+ Ke5 5.Qh5+ Rf5 6.f4+ Bxf4 7.Qxe2+ Bxe2 8.Re4+ dxe4 9.d4 mate.

 Isto é, para resolvê-lo, as brancas têm que sacrificar todas as suas  
 peças e dar o mate com o peão remanescente.
     -Como é que é mesmo?,  perguntou surpreso Piéce Touchée. Então todas  
 as figuras brancas têm que morrer e a menor de todas é que dá o mate? Mas,  
 os Latrons são sete e pelos indícios o assassino quer eliminar seis para  
 depois ser ele o vitorioso!
     Começo a entender, disse En Passant, mas quem será a próxima  vítima?
     Vejamos, disse excitado seu assessor, as figuras  de xadrez têm seus
 valores definidos. A mais forte é a dama, seguida das 2 torres, seguidas  
 dos bispos e ou cavalos, e por último os peões. Os 3 primeiros assassinatos
 correspondem ao organograma da família Latron, às 3 peças sacrificadas no
 problema: a torre o bispo e o  cavalo... a torre sacrificada no início,
 corresponde ao  Vice-Presidente Henry, o bispo ao diretor Jacques, o  
 cavalo ao diretor Louís. Depois vem um peão, isto é, Desirée ou François... A  
 dama a ser sacrificada em e2 significa o velho Latron... Depois vem a outra  
 torre em e4, isto é, Albert. E por fim, permanece um único peão, Desirée ou
 François. Só precisamos saber quem é que gosta de xadrez.
     Chamaram o velho Latron. Contaram o que haviam descoberto.  Mas não
 conseguiram deduzir quem era o assassino porque o tabuleiro estava no  
 salão comunitário e tanto Albert, quanto  Desirée e François eram enxadrístas
 fanáticos.
     -É óbvio do que se trata,  disse Latron, o assassino vai ser o peão,  
 meu sobrinho inútil, François. Prendam-no!
     En Passant estava inclinado a atendê-lo, pois seus chefes há tempos  
 que vinham pressionando-o para resolver o caso dos assassinatos da Casa  
 Latron, mas Piéce Touchée sussurou-lhe alguma coisa...
     -Por enquanto não vamos prender ninguém, decidiu En Passant, mas  
 vamos seguir os passos do suposto assassino.
     -10 dias depois prenderam o assassino, quando pingava veneno no copo  
 de outro Latron. No flagrante confessou tudo, mas ficou muito surpreso pelo
 fato da polícia ter pressentido suas ações, tão  artisticamente  
 planejadas.
     Pois é, você deixou todo o plano do crime exposto... sorriu En  
 Passant.
 -E quem era o assassino?
     Não, não  era François, mas o bem-educado Desirée.! Piéce Touchée  
 havia notado que o simbolismo do problema era tão perfeito que devia ser  
 observada também a naturalidade de cada peão. Os peões se movem nas colunas "d" e  
 "f" e estas letras são também as iniciais dos nomes Desirée e François. No
 problema, o peão sacrificado é o peão "f" e o peão "d" é o que sai
 vitorioso! Suas suspeitas se confirmaram. Desirée se preparava para
 envenenar seu irmão François, quando  foi  flagrado...
 
Traduzido do livro " As novas aventuras do Inspetor En Passant" de Gyorgy
 Bakcsi

Abandono precoce             Enviado por Romario
Exemplo brasileiro de como se abandonar estando ganho ou pelo menos, não perdido. Eu estava nessa sala no dia, só que jogando o masters. Após o abandono, acho que o Fernando Madeu mostrou toda a linha para o Sérgio. Detalhe: Madeu não joga a Alekhine. Sérgio já tem mais de 100 partidas na Alekhine, jogadas no xadrez postal
Eduardo Arruda - Sergio Dias [B02]
Camp. Est. Senior 2003 Clube Municipal, RJ, 22.03.2003 [,F]
1.e4 Nf6 2.Nc3 d5 3.e5 Ne4 4.Nce2 d4 5.c3 dxc3 6.Qa4+ 1-0

Incrível. As negras abandonararam aqui!! [ 6.Qa4+ Sérgio viu 6...Nd7 7.Qxe4 ganhando o cavalo. O problema é que esse lance é perdedor!! ( 7.Nxc3 e a partida segue normal.) 7...Nc5 8.Qe3 Nd3+ 9.Kd1 cxb2 com vantagem decisiva]



1. O mestre pode. Um forte amador pediu ao GM mexicano Carlos Torre que analisasse uma de suas partidas. Torre não queria perder tempo com artidas de capivara, mas o jogador tanto insistiu que Torre concordou, embora sob uma condição: pararia a análise assim que constatasse um erro gravíssimo. Ficou combinado. O sujeito começou a mostrar a partida: 1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Cf6 4.e5 ...Cg8. "Pode parar - disse Torre - esse lance preto é horroroso." O homem replicou: "Não é bem assim, maestro, a idéia do recuo do cavalo é sutil. Nimzowitsch, por exemplo, já experimentou esse lance e venceu!" Ao que Torre respondeu: "Nimzowitsch é um gênio, ele pode jogar isso. Mas você não, você tem que respeitar as regras de desenvolvimento das peças." Ah se todos nós lembrássemos dessa história!

2. Nomes curtos. O jovem Leonid Stein tinha acabado de perder para o veterano GM Salo Flohr. Para consolá-lo, Flohr contou uma piada: "Não fique triste. Olha, em breve os nomes curtos vão ser melhores do que os nomes longos. Veja por exemplo Liliental, um grande jogador no passado. Agora, quem se destaca é Tal. Com você vai ser assim também. Em breve, Bronstein vai ter que ceder o lugar para Stein!". Poucos anos depois, a "profecia" foi cumprida: Stein venceria três campeonatos soviéticos!

3. Com tabuleiro. Richard Réti e Alexander Alekhine encontraram-se no trem e começaram a analisar uma posição às cegas (sem o tabuleiro nem as peças, só de memória). Depois de alguns minutos, Alekhine virou-se para Réti e disse: "Olha, todos sabem que nós dois somos os melhores jogadores às cegas do mundo. Por que então não utilizamos um tabuleiro de verdade?".

4. Assassino de si mesmo. O GM húngaro Geza Maróczy era conhecido pela elegância e polidez com que tratava a todos. O GM letão Aaron Nimzowitsch era famoso exatamente pelo contrário, pelo mau humor e falta de tato com que tratava a quase todos. Certa vez, Nimzowitsch foi tão ofensivo que Maróczy reagiu convocando-o para um duelo no dia seguinte. O irado Nimzowitsch não compareceu ao encontro. Justificou-se assim: "Não vou contribuir para meu próprio assassinato."

5. Grande fígado. O GM inglês Blackburne foi um dos mais fortes jogadores do mundo nas últimas décadas do século XIX. Na lista de suas vítimas, incluem-se Steinitz, Tchigorin, Em. Lasker, Tarrasch, Pillsbury e Alekhine. Suas partidas eram especialmente inspiradas pelas bebidas alcoólicas. Conta-se que ele era capaz de esvaziar duas garrafas inteira de uísque numa sessão de partidas simultâneas. Morreu aos 83, idade bastante avançada para quem viveu, e bebeu, na sua época. Um grande cérebro e, pelo visto, um grande fígado.

6. Yoga. Aaron Nimzowitsch descobriu que a prática de Yoga, a milenar prática física e mental indiana, poderia melhorar seu desempenho nos torneios de xadrez. Experimentava os movimentos do yoga nos próprios torneios. Enquanto o adversário meditava em busca do lance, Nimzowitsch ia para o chão e colocava-se de cabeça para baixo. Acreditava que desta maneira o sangue desceria para o cérebro e ajudaria a pensar melhor. Algumas vezes esse troço funcionou muito bem. Mas desconfio que se você não for Nimzowitsch, não fluirá tanto sangue assim para sua cabeça.

7. Melhor para ele. Partida amistosa de uma amador contra um forte jogador. Ao amador dirigiu-se a Emanuel Lasker, que observava o jogo, e perguntou: "Qual o melhor lance nessa posição?". Lasker respondeu: "Jogue g2-g4." O pobre incauto seguiu o conselho e, inesperadamente, seu adversário respondeu com a dama, que deu o mate. Estarrecido, o indivíduo virou para Lasker e perguntou, meio sem acreditar, meio furioso: "Mas o senhor não disse que essa era o melhor lance?". "Sim - respondeu Lasker - o melhor para seu adversário." No fundo, essa era a maneira de jogar xadrez de Lasker: ele encaminhava a partida para posições em que seus adversários, perplexos, se interrogavam: "essa posição é boa, é óbvio, mas para qual de nós dois?"

8. Sumiço da torre. Na União Soviética, havia uma tipo de simultânea dada por dois grandes mestres que jogavam alternativamente. O GM1 fazia o lance contra todos os tabuleiros, que, em seguida, respondiam. Era então a vez do GM2 fazer os lances em cada tabuleiro. Depois das respectivas respostas, o GM1 retornava e assim a partida continuava. Certa vez, Averbach foi jogar um lance quando percebeu que estava com a torre a menos. Mesmo com a posição perdida, ainda fez dois ou três lances. Depois que a exibição acabou foi conversar com Bondarevsky: "Como é que você perdeu aquela torre?". Ao que Bondarevsky replicou: "Ué, eu perguntar exatamente isso!". Os dois se olharam e perceberam que tinham sido roubados pelo esperto amador.

9. Endereço do hotel. Emanuel Lasker era um tanto distraído. Certa vez, hospedou-se num hotel e foi ao clube da cidade. Depois da simultânea e do jantar, oferecem carona de volta para hotel. Neste momento, Lasker percebeu que não sabia nem o nome nem o endereço do hotel onde havia deixado suas bagagens. Tiveram que percorrer a cidade inteira até encontrar o lugar correto.

10. Relógio. Conta-se que Gari Kaspárov, o "Ogro", como dizem os espanhóis, tem o hábito de retirar o relógio do pulso assim que a partida começa. O relógio fica ali, sobre o tabuleiro. Quando Kaspárov sente que a partida está chegando ao fim e que ele será o vencedor, pega o relógio e bota de novo no braço. Uma maneira sutil de dizer pro adversário: "Bom, vamos acabar logo com isso que não tenho tempo a perder." Pressão sobre o adversário? Sem dúvida. Mas já houve adversários que, pelo menos em algumas ocasiões, fizeram Kaspárov esquecer do relógio.

11. Futebol. Quem joga xadrez é capaz de jogar futebol? O clichê é o jogador frágil, distraído e que derruba os objetos em seu redor. Mas as coisas não são bem assim. O esporte de Ljubojevic era o futebol e foi por causa de uma longa contusão que ele aprendeu a jogar xadrez, com já tinha 16 anos de idade (mais tarde, seria um dos dez melhores do mundo). O GM Peter Leko foi titular de um time juvenil húngaro. O melhor de todos, porém, foi o GM norueguês Agdestein. Forte jogador de xadrez, também foi titular da seleção norueguesa de futebol, autor de um gols importantes. Por exemplo, na vitória contra a Itália na Copa da Europa. Se o nosso leitor jamais fez gol contra a seleção da Itália, talvez possa um dia ostentar o título de Grande Mestre Internacional...

12. Senhoras. Para os psicanalistas de plantão: Alekhine foi casado com mulheres muitos anos mais velhas dos que ele. Certa vez, ainda jovem, foi a um baile. Havia moças bonitas, frescas e joven como a primavera, mas ele não prestou a menor atenção. Mas quando vislumbrou uma senhora com vinte anos a mais do que ele, Alekhine não conteve a agitação e fez de tudo para dançar com ela. Seu entusiasmo era surpreendente.

13. Escarlatina. Alekhine foi internado no hospital de Praga (República Tcheca) em 1942 para tratar de febre escarlatina (doença transmissível produzida por um estreptococo). No mesmo hospital o GM tcheco Richard Réti havia morrido de escarlatina em 1929. Alekhine, que era supersticioso, não achou nem um pouco interessante a coincidência. Mas sobreviveu para morrer em 1946, em Lisboa.

14. Moscou 1959. O torneio internacional em memória de Alekhine em 1959 teve um trio de vencedores: V. Smyslov, D. Bronstein e B. Spassky. Superam vários GMs, entre eles Vasiukov, Portisch, Larssen, Filip e F. Olafsson. Smyslov e Bronstein terminaram invictos. Spassky sofreu uma única derrota, para Smyslov, que venceu o torneio pelo critério SB. Smyslov tinha sido campeão mundial, Spassky conquistaria o título dez anos depois. Bronstein havia empatado o match de 24 partidas pelo título mundial, contra Botvínnik em 1950. Três gigantes da história do xadrez, todos os três ainda vivos (novembro de 2001).

15. Comandante Che. Ernesto Che Guevara, o comandante da guerrilha comunista vitoriosa na revolução cubana de 1959, ainda hoje aparece em estampas de camisetas. Ícone dos anos 1960s, talvez seja menos lembrado por suas idéias do que por sua imagem de jovem rebelde ("sem causa"?). Che Guevara era argentino e como tantos argentinos, um bom amador de xadrez. Existem fotos dele jogando xadrez e partidas anotadas. Jogou numa simultânea contra contra o fortíssimo GM Miguel Najdorf e conseguiu empatar ("tablas", como dizem nuestros hermanos argentinos.)

16. Filatelia. O xadrez tem recebido centenas de homenagens dos Correios que muitos países dos cinco continentes, que lançam selos com imagens dos grandes campeões mundiais. Um dos motivos para tantas atenções foi a prática de xadrez por correspondência entre jogadores de todos os cantos do planeta. Entretanto, o xadrez por cartas tende a desaparecer, substituído pela comodidade (e preço) da mensagem eletrônica (e-mail). O ex-campeão mundial Anatoli Kárpov é fanático por coleção de selos, e conta-se que já gastou 60 mil dólares para comprar um selo raríssimo.

17. Apreciando a partida. Há um ditado judaico-russo que pôde ser adaptado para o xadrez: o amador estuda a partida do mestre e a aprecia três vezes. Primeiro, quando vê a partida. Segundo, quando lê os comentários. Terceira, quando entende o que aconteceu. (O leitor tem três chances para sorrir...)

18. Short e os malucos. Numa entrevista, o GM inglês Nigel Short comparou os tipos de stress que atingem as diverentes modalidades esportivas. No futebol, o jogador se contunde e é tratado por um médico ortopedista e um fisioterapeuta. E no xadrez? O equivalente da contusão é o stress, e, em casos mais graves, os distúrbios mentais. Nestes casos, os profissionais indicados são o psicólogo e o médico psiquiatra. Entretanto, poucos jogadores são capazes de admitir a necessidade de recorrer a esse tipo de profissionais. Existe preconceito ("Psiquiatra é coisa de maluco ou de madame"). Sensato, Short descarta a idéia de que o xadrez produza loucos. É o contrário: o xadrez tem alguma coisa que parece exercer uma grande atração sobre os malucos.

19. Pontapés. T. Petrosian e V. Korchnnoi eram rivais há muito tempo na URSS. Quando Korchnnoi abandonou a URSS e se radicou na Suíça, a rivalidade parece ter aumentado. Afinal, agora nenhum dois precisava manter as aparências do "homem novo soviético". O vale-tudo da Guerra Fria permitia quase tudo. Então, as partidas entre os dois desenvolviam-se em dois planos. Em cima do tabuleiro, sangrentos combates produzidos pelo entrechoque das peças de madeira. Em baixo do tabuleiro, iradas batalhas de chutes, bicos e pontapés. Dor nas canelas dos mestres e dor na cabeça dos juízes. Como resolver? Os carpinteiros (que também fazem as peças...) construíram uma poderosa divisória de madeira para se colocada embaixo da mesa que isolaram os bicos de sapato dos dois futebolistas, digo, enxadristas.

20. Sexo e xadrez. Sexo é bom antes de uma partida importante? Sexo é bom, claro, mas será que, mesmo que você termine a performance ainda cedo e então consiga muitas horas de sono, não haveria um desgaste físico excessivo? Há quem diga que a diminuição dos hormônios também reduz a agressividade. Assim, os mais apressadinhos poderão até dizer que o jogador com mais, digamos, vontade, é tático, eos que têm menos, digamos, sede, tenderiam a ser posicionais. Mas há quem replique, alegando estudos freudianos que apontam os jogadores posicionais como masturbadores, ao passo que os táticos sofreriam de ejaculação precoce (não sei bem qual seria o equivalente feminino. Parece que as mulheres são melhores que os homens inclusive em relação a esses assuntos). Outros ainda poderão dizer que jogadores táticos apreciam o sado-masoquismo ao passo que jogadores posicionais preferem sexo oral / anal. Enfim, o asssunto é polêmico. Com certeza, o leitor encontrará muitos jogadores que preferem xadrez a sexo.

21. Frio & calor. Nunca conheceremos as sociedades e suas transformações se nos prendermos a determinismos geográficos. Mas ainda há quem ache que os russos jogam bem xadrez porque o país tem um inverno muito rigoroso. Essa tese não se sustenta quando lembramos que o Canadá e a Noruega são frios pra caramba e nem por isso se tornaram grandes potências mundiais do xadrez. Cuba é um país tropical e tem melhores jogadores do que a gélida Finlândia. Capablanca foi um gênio tropical que derrotou inúmeros mestres de países onde cai neve. É evidente que o xadrez na Rússia (na URSS, para sermos precisos) conheceu um extraordinário avanço graças ao apoio do Estado soviético aos programas de educação em massa de juventude.

22. Nomes de aberturas. Os nomes de aberturas podem ter várias origens: grandes jogadores (defesa Alekhine, variante Lasker, ataque Panov-Botvinnik, sistema Petrosian, variante Polugaevsky, contra-ataque Marshall, contragambito Albin, estrutura Maroczy), países e nações (defesa francesa, abertura escocesa, defesa eslava, abertura catalã), cidades (variante Scheveningen, variante Leningrado, defesa Cambridge Springs, abertura vienense, sistema London), nomes exóticos (variante dragão, gambito elefante, hedgehog - porco espinho, ataque Grande Prix, defesa ortodoxa, variante Stonewall - muro de pedra, ataque baioneta) ou simplesmente termos técnicos ou descritivos (gambito de rei, abertura do bispo, defesa dos dois cavalos, variante cerrada, variante clássica, variante das trocas). Às vezes, as aberturas recebem mais de um nome. Por exemplo, abertura Ruy López e abertura espanhola, Giuoco Piano e abertura italiana, defesa Petroff e defesa russa, defesa escandinava e contra-ataque central, gambito Volga e gambito Benko.

23. Frio dos russos. Petrópolis, cidade fundada por colonos alemães na serra fluminense (Estado do Rio de Janeiro), está a quase 1.000 metros de altitude em relação ao nível do mar. Nas noites de inverno, não são incomuns as temperaturas próximas de zero grau Celsius. Por causa disso, o imperador D. Pedro II costumava passar por lá os meses de verão. Frio para os brasileiros, mas certamente ameno para os europeus, e ameníssimo para os russos, correto, amigo leitor? Pois é, no interzonal de Petrópolis, em 1973, algumas manhãs tinham temperaturas agradáveis, próximas a 10 ou 15 graus. Quem estava na porta do local do torneio (Clube Petropolitano) pôde constatar, surpreso: os jogadores mais agasalhados, com casacos de peles, gorros e cachecol... eram os soviéticos! Não deixava de ser engraçado ver aqueles homens, acostumados com o frio de Moscou e Leningrado, tremerem com o friozinho da serra a uma hora de carro das praias do ensolarado Rio de Janeiro.

24. Livro bom. Bogoljubow era conhecido pela autosuficiência. Depois de ter escrito um livro muito bom de xadrez, andou perdendo algumas partidas de torneio. Sua conclusão não poderia ser outra: "Agora que todos leram meu excelente livro, fica fácil jogar de modo tão maravilhoso como eu."

25. Camisa velha. Contam alguns observadores mais atentos (e nós estivemos lá) que durante o interzonal do Rio de Janeiro em 1979, o soviético Tigran Petrosian jogou todas as rodadas exatamente com a mesma camisa. Superstição, falta de cuidado ou confiança na qualidade da lavanderia do Copacabana Palace? Sua esposa, Rona, era conhecida pelo cuidado com que protegia o marido. Bem, talvez Petrosian tivesse vários exemplares do mesmo modelo de camisa. Se a roupa ajudou eu não sei, mas o fato é que no final do interzonal, Petrosian estava entre os três classificados para o torneio de candidatos.

26. Nomes italianos. Nos séculos XVI e XVII e Itália viveu um esplêndido período cultural. Nomes como os de Leonardo da Vinci, Galileu, Michelangelo, Maquiavel e Monteverdi são glórias italianas e da humanidade. Esse florescimento intelectual certamente explica a importância dos jogadores italianos de xadrez naquele período. Alguns dos mestres da época publicaram os primeiros tratados teóricos do xadrez, entre eles o famoso livro de Grecco. Ainda hoje, alguns termos do xadrez italianos são empregados por jogadores de todo o mundo e em todos os idiomas. Por exemplo, fianchetto (pequeno flanco), gambito (perninha), ataque Fegatello ("pequeno fígado", certamente o frágil ponto f7 das pretas), abertura Giuoco Piano ("jogo suave").

27. Ronda do animal. Enquanto o adversário refletia a respeito do próximo lance, Alekhine gostava de levantar a cadeira e andar em círculos ao redor da mesa. Parecia um tigre faminto, rondando a vítima a ser devorada. É evidente que muitos jogadores ficavam perturbados com essa pressão psicológica. O inimigo que nos observa pelo cangote, depois funga e caminha apressado em volta do tabuleiro... que coisa desagradável! O soviético Mikhail Tal também tinha o mesmo hábito. Embora nas relações pessoais Tal fosse infinitamente mais afável do que Alekhine, sobre o tabuleiro era igualmente selvagem, um canibal terrível.

28. Ar viciado. Mikhail Botvinnik era capaz das maiores proezas durante a preparação para um torneio. Como todo não-fumante, ele detestava a fumaça do cigarro. O que fez então? Jogou várias partidas de treinamento nas quais seu preparador, o GM Ragosin, propositalmente fumava e dava baforadas bem no rosto de Botvinnik! Isso sim é que é maneira de enfrentar pressão psicológica.

29. Carecas e cabeludos. Quem joga melhor xadrez, os carecas ou os cabeludos? Naturalmente, a quantidade de material acima do couro cabeludo não tem ligação alguma com a quantidade de massa cinzenta abaixo do couro cabeludo. Vejamos: Anderssen, Tartakower, Spielmann, Mikhail Tal e Bronstein eram todos carecas. Curiosamente, mestres do agudo jogo combinativo. Lasker, Capablanca, Botvinnik, Petrosian, e Karpov todos bem coroados por cabelos. Os cabeludos tenderiam a dar mais atenção ao jogo posicional? Timman continua cabeludo. Kasparov não é calvo, Kramnik até pouco tempo atrás tinha cabelos compridíssimos. Fischer usava cabelos curtos com topetinho, bem estilo rapaz americano anos 60. Mas os anos passaram e ele perdeu bastante cabelo. Aliás, parece que o fenômeno se repetiu com o nosso GM Mecking. De qualquer modo, as irmãs Polgar são lindas e, claro, jamais ficarão carecas...

30. Mídia. Um grande mestre soviético ia participar de um programa na tevê de Moscou e estava um tanto nervoso. Pediu que a Mikhail Tal que fizesse uma sugestão: "O que devo falar amanhã, Misha?". Tal, sempre muito bem humorado, respondeu: "Diga para que ouçam o rádio. Estarei dando uma entrevista no mesmo horário!"

31. Rubinstein e Lasker. Um dos crenças mais correntes no xadrez é a de que Em. Lasker nunca teria aceito a proposta de Rubinstein para um match pelo título mundial. Na verdade, Lasker havia anunciado que enfrentaria qualquer mestre que reunisse o dinheiro suficiente para a bolsa. Quando Rubinstein arrumou um patrocinador, Lasker aceitou o desafio. Mas o fracasso no torneio de São Petersburgo 1914 (ficou abaixo dos cinco primeiros) e as desgraças provocadas pela primeira guerra mundial arruinaram as chances do GM polonês. Verdade seja dita: em todos os torneios em que os dois participaram, Lasker sempre ficou na frente de Rubinstein. No confronto individual, o escore foi vantajoso para Lasker também. Emanuel Lasker foi um jogador extraordinário, e poucas pessoas hoje têm idéia do quanto era superior a seus contemporâneos.

32. Instrução. Ninguém se torna grande mestre apenas com o talento natural. São necessários anos de estudos de teoria de xadrez, várias horas por dia, dia após dia, anos após ano, ininterruptamente. Todo GM é também um erudito de xadrez. Mas será necessário ter educação superior para se tornar um bom jogador? Alguns dos maiores mestres não apenas terminaram a faculdade como atingiram o mais alto grau de estudo, o título de doutor (PhD). Foi o caso de Emanuel Lasker (matemática e filosofia), Euwe (matemática), Botvinnik (engenharia elétrica). Mas também houve fortíssimos jogadores que chegaram ao topo do mundo enxadrístico sem terem completado seus estudos secundaristas: Bobby Fischer, Leonid Stein e Tigran Petrosian.

33. Vitória no empate. Na última partida do match pelo campeonato mundial de 1935, o holandês Max Euwe precisava de apenas um empate para conquistar o título do russo Alexander Alekhine. No momento em que estava colocando as peças na posição inicial, Euwe esbarrou e derrubou o próprio rei. Então, dirigiu-se em voz a baixa ao adversário: "Doutor, aceito o empate a qualquer instante da partida." É óbvio que Alekhine não poderia concordar com o empate. Todavia, o desenvolvimento do jogo foi amplamente favorável a Euwe, que conseguiu dois peões a mais em posição totalmente ganha. Nada mais restou a Alekhine do que aceitar o empate e cumprimentar o vencedor do match.

34. Genro arriscado. Dois mestres de xadrez conversavam: "Você sabe, no clube há muitas pessoas que jogam xadrez a dinheiro, e apostam alto. Meu genro, infelizmente não joga xadrez." O outro perguntou: "Infelizmente? Ainda bem que ele não joga xadrez! Então, qual é o problema?". O amigo aflito esclareceu: "Pois é, esse é o problema: ele não joga xadrez..."

35. Ele "enxerga"!?. O GM alemão Sämisch dava uma exibição de simultâneas às cegas (sem ver o tabuleiro, jogando só com a memória). Na platéia, uma linda moça observava tudo com atenção. E Sämisch, claro, não tirava os olhos de cima da dama. No final da simultânea, a jovem não se conteve e protestou: "Isso é uma fraude. Ele não é cego conversa nenhuma. Enxerga tudo perfeitamente!"

36. Valeu Haroldo! O campeonato brasileiro de 1984 desenrolou-se em Cabo Frio RJ, no hotel Malibu, que fica em frente à praia do Forte. O torneio foi jogado em sistema suíço, aberto para todos que tivessem rating CBX superior a 2000. Mas houve uma grande exceção: o niteroiense Haroldo Cunha dos Santos Jr só tinha rating 1959 e foi autorizado a participar. Haroldo justificou plenamente a inserção: entre os 67 jogadores, chegou em 14o /18o lugar, ao lado de figuras notáveis como o MI Francisco Trois e Rubens Filguth. (* Hoje, o amigo Haroldo está radicado em Santa Catarina. Foi 5o lugar no campeonato brasileiro de 2001).

37.Tática e futebol. Originalmente, o xadrez é um jogo militar. Não é à toa que utilizamos termos técnicos militares como estratégia e tática. Estratégia tem a ver com planejamentos gerais e profundos. Tática está ligada à execução direta. No futebol, o termo tático tem sido empregado de forma incorreta. Técnicos e jornalistas confundem tática com estratégia. O que chama de tática é na verdade estratégia: colocação dos jogadores em campo, posicionamento do ataque, tipo de marcação, etc são aspectos estratégicos. O drible, o passe em profundidade, a batida de falta é que são aspectos táticos do futebol. Quando o time brasileiro esquece qualquer "esquema de jogo" e parte para tentar resolver a partir da habilidade individual de cada jogador, então podemos dizer que houve um abandono da estratégia em favor dos golpes táticos. Tal como no xadrez, as surpresas táticas podem funcionar no futebol, mas o que normalmente garante a vitória é um bom planejamento estratégico.

Ver MaisVer Mais